Como a pandemia está afetando a trajetória da criança e do adolescente?  Quais são os efeitos, os riscos, e as circunstâncias que estes veem enfrentando?

Como a pandemia está afetando a trajetória da criança e do adolescente? Quais são os efeitos, os riscos, e as circunstâncias que estes veem enfrentando?

2 de julho de 2021

A pandemia COVID-19 repercutiu/continua repercutindo em diversas facetas da sociedade, como: saúde, política, economia, entre outros; mas é fato que, esta avassaladoramente contribuiu para o aumento das desigualdades e das vulnerabilidades, principalmente em grupos específicos – como retrataremos neste texto – crianças e adolescentes.

As medidas necessárias para o controle desta pandemia têm um impacto desastroso na vida de crianças e adolescentes, particularmente, entre as famílias mais pobres. De acordo com uma pesquisa publicada pela UNICEF (órgão das Nações Unidas que tem como objetivo a promoção dos direitos e do bem-estar das crianças e adolescentes), os rendimentos familiares de mais da metade da população brasileira (55%) diminuíram. Consequentemente, os gastos com despesas como alimentação, habitação e saúde, foram/são reduzidos, e, esta falta de bens básicos para a sobrevivência oprime o desenvolvimento da população infanto-juvenil.

Outra esfera que impacta, no curto e no longo prazo, este grupo é a educação! O respectivo fechamento das escolas acomete negativamente o direito à educação de milhares de crianças e adolescentes pobres, bem como, o direito à saúde mental e física, mas como?  Primeiramente, diversas crianças e adolescentes não possuem acesso à internet, e nem mesmo algum aparelho eletrônico, como celulares e computadores para acessarem as aulas remotas. Além disso, algumas pesquisas apontam que existem crianças e adolescentes que não receberam/recebem atividades escolares para serem realizadas. Ou seja, o desenvolvimento educacional é interrompido, reproduzindo um ciclo vicioso da pobreza, uma vez que, sem educação, surgem privações de oportunidades de emprego, aumentam as informalidades e contribui para as desigualdades.

Ainda na dimensão da educação, a privação de frequentar as escolas infere na segurança alimentar, assim como, na saúde física e mental. É possível afirmar que, diversas crianças e adolescentes possuem as merendas escolares como a única fonte de alimentação saudável, de acordo com o IPEA (2020), uma parcela significativa sofreram/sofrem de fome na ausência da merenda escolar, acometendo a saúde física e no bem-estar, colaborando para problemas psíquicos como depressão e ansiedade. Neste sentido, ao reconhecermos a proporção dos impactos no desprovimento destes direitos básicos das crianças e adolescentes, como condições básicas de sobrevivência, educação e saúde, torna-se necessário uma postura proativa de combate à pandemia e de luta à preservação das dignidades deste grupo!!!

Os impactos desta crise sanitária não param por aí! O isolamento social contribuiu para elevação da violência ou abuso sexual, da violência física, psicológica, moral, e o abandono e negligencia de cuidados de meninas e meninos, uma vez que, famílias afogadas em problemas econômicos, desemprego, uso de álcool, drogas, e, partilhando um ambiente por um longo período de tempo potencializam os conflitos domésticos tornando crianças e adolescentes vulneráveis.

Além disso, crianças e adolescentes neste período tiveram vínculos familiares rompidos, ou estão em risco de separação, direcionando-as às instituições de acolhimento; e, a situação pode ser ainda pior, dado que, estas unidades responsáveis pelo acolhimento, neste contexto pandêmico, são sujeitas a interrupção de suas atividades sociais, bem como podem expor meninas e meninos à um maior risco de contraírem a COVID-19.

A crise da pandemia COVID-19, infelizmente, desencadeou um retrocesso em relação aos avanços angariados por muitos anos no bem-estar, na educação, na saúde, e, na provisão dos direitos das crianças e adolescentes. O engajamento dos Estados em salvar suas economias, e, seus sistemas de saúde dispensa a atenção nos cuidados dos mais vulneráveis, deixando a proteção à vida, à saúde, à educação das crianças e adolescentes para segundo plano, marginalizando os debates a este respeito. Até quando vamos consentir com isso? As políticas públicas direcionadas a este público precisam ser preservadas e resilientes frente este período, a fim de que se garanta o mínimo de assistência, proteção e dignidade na vida das meninas e meninos!

Por Talita Bozon Penteado
Direitos autorais cedido ao CRAMI Piracicaba.

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